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Violência faz motoristas de aplicativo evitarem alguns bairros
06/03/2019 09:07 em Novidades

A falta de segurança, principalmente no período noturno, vem fazendo com que motoristas de aplicativos deixem de rodar em bairros considerados ciolentos em João Pessoa, ou adotem estratégias de segurança, por medo de assaltos.

O motorista de aplicativo Allan Hebert contou que trabalha na área de transporte privado desde 2017 para complementar a renda mensal. Ele atua como motorista pela manhã e à noite, mas por conta do risco de assalto, estende o horário noturno apenas até as 22h.

 

“Pelo caos de violência que o nosso estado atravessa, tenho evitado rodar muito no período noturno. Nunca fui assaltado, mas já peguei alguns usuários que me deixaram com medo”, disse Allan.

 

Um dos fatores apontados por Allan Hebert para a desconfiança em determinados clientes é o destino final da corrida. Em um dos aplicativos que ele trabalha, o Uber, não é possível que o motorista saiba para onde irá levar o passageiro, fato que ele considera como importante para segurança.

 

“Já pela 99Pop, que sabemos o destino final logo quando aceitamos a chamada, sempre cancelo a corrida quando vejo que o bairro não é dos melhores. É melhor não arriscar”, contou Allan Hebert.

 

Além de evitar bairros considerados mais violentos e horários após as 22h, Allan e alguns dos amigos que também trabalham como motoristas de aplicativo usam táticas para tentar driblar assaltos. Uma das ideias é, com uso do WhatsApp, compartilhar em tempo real o local onde estão. Outra tática é o desligamento dos aplicativos após realizar uma corrida para alguns bairros.

 

“O principal cuidado que tomo para evitar a violência é evitar aceitar corridas em bairros com histórico de violência. Além disso, eu e mais uns dez amigos temos um grupo no WhatsApp onde compartilhamos a nossa localização em tempo real”, afirmou Allan.

 

Outros dois motoristas de aplicativos, que prefeiriram não se identificar, disseram ao Portal Correio que evitam muitos locais de João Pessoa porque já foram barrados por criminosos e traficantes.

 

“Eu levava uma senhora que pegou a corrida no Centro para uma comunidade de João Pessoa. Ao chegar, depois de uma lombada, um grupo de criminosos armados pediu que eu parasse e me identificasse. Eles conheciam a senhora, nos deixaram passar, mas pediram que eu fosse rápido e saísse pelo mesmo local. Fiquei apavorado e não pego mais corridas para locais como esses”, disse um deles.

 

Evitar bairros não é o caminho

Para o presidente da Associação dos Motoristas de Transporte Privado Individual da Paraíba, Paulo Queiroz, a tática de evitar determinados bairros considerados mais violentos não garante a segurança de nenhum motorista.

 

“Não recriminamos os motoristas que não querem ir para determinados bairros porque é uma decisão individual, faz parte da decisão dele como profissional liberal de tomar o melhor caminho e pegar a melhor corrida para que acima de tudo ele se sinta bem. Porém, deixar de buscar ou levar pessoas para determinados bairros não é garantia de que você não vai sofrer qualquer tipo de violência. Já ocorreram casos em que o motorista busca ou deixa pessoas em bairros nobres e ele acaba sendo assaltado por essas pessoas durante o trajeto. Além disso, os assaltos costumam ocorrer mais quando o motorista aceita corridas ‘por fora’, sem uso do aplicativo”, explicou Paulo Queiroz.

 

Conforme Paulo, duas medidas que podem ajudar os motoristas de aplicativo a escaparem do risco de abordagem criminosa em alguns bairros são o acionamento das luzes internas e baixar os vidros do veículo. “Serve para que o motorista não seja confundido com uma autoridade policial ou que levante suspeita, levando os criminosos a abordarem o carro”, disse.

 

Associação pede mais segurança

Um dos pontos mais questionados pelos motoristas é a falta de informações sobre os passageiros. Segundo Paulo, a Associação tem tentando diálogo com os aplicativos para que eles forneçam um cadastro mais efetivo dos clientes, com mais informações para a segurança dos motoristas.

 

“Brigamos muito para que os aplicativos tenham um cadastro mais efetivo quanto a segurança. Você ser abordado por questões externas ao aplicativo é uma coisa, outra coisa é o aplicativo lhe trazer um passageiro que seja um criminoso, o que é inadmissível. Os aplicativos não tomam uma ação efetiva quanto à solidariedade e quanto ao ressarcimento do motorista que foi colocado em risco por conta de um cadastro mal feito”, destacou Paulo Queiroz.

 

Operadoras explicam

Procurada pelo Portal Correio, a Uber informou, que a segurança é uma prioridade para a empresa e que investe em aprimoramento tecnológico para fazer uma plataforma mais segura possível.

 

“A empresa passou a adotar no Brasil o recurso de machine learning, que usa a tecnologia para bloquear viagens consideradas mais arriscadas e lançou uma ferramenta que reúne os recursos de segurança para motoristas parceiros, inclusive um botão para ligar para a polícia em situações de risco ou emergência diretamente do app”.

 

Ainda conforme a Uber, a empresa lançou um aplicativo voltado para motoristas. O serviço inclui a informação de qual será a forma de pagamento antes de o usuário embarcar. Segundo a empresa, o motorista conta com um número de telefone 0800 para registrar e solicitar apoio da Uber depois que comunicarem incidentes às autoridades e estiverem em segurança.

 

“O aplicativo exige do usuário que quiser pagar somente em dinheiro que insira o CPF e data de nascimento, dados que são checados com a base de dados da Receita Federal. Todas as viagens são registradas por GPS, o que permite que a Uber colabore com as autoridades, nos termos da lei, em caso de necessidade, e o motorista também pode compartilhar a localização, o trajeto e o horário de chegada, em tempo real, com quem desejar”, informou a empresa.

 

O Portal Correio tentou contato com a 99Pop, mas não obteve êxito para solicitar um posicionamento da empresa sobre quais procedimentos são oferecidos aos motoristas para melhorar a segurança ou em caso de assaltos.

 

Porém, no próprio site, a empresa cita como medidas de segurança o monitoramento via inteligência artificial dos perfis de motoristas e clientes; mapeamento das áreas de risco com base em estatísticas internas e externas, permitindo o monitoramento das corridas em tempo real; e que em aproximação a áreas de risco, o mapeamento artificial emite um alerta tanto na chamada, quanto durante a corrida.

 

O site também cita como medidas de segurança o oferecimento do telefone 0800 888 8999 como contato emergencial exclusivo para ocorrências de segurança; promoção de treinamentos, cursos especializados e dicas de proteção, combate a assédio e discriminação para os motoristas; e um botão de emergência no aplicativo, onde uma chamada telefônica é direcionada para a polícia local.

 

PM diz que promove operações

A assessoria de comunicação da Polícia Militar disse que realiza operações em João Pessoa para combater crimes e ajudar a população, incluindo motoristas de aplicativo, com sensação de segurança.

 

“Frequentemente, a Polícia Militar, através do Comando Regional Metropolitano, realiza operações com intensificação de abordagens, pontos de checagem e blitzen no trânsito, com o objetivo de combater os crimes patrimoniais, resultando na prisão de suspeitos, apreensões de armas de fogo e recuperação de itens roubados. As ações reforçam o policiamento preventivo, que pode ser acionado através do número 190, ou por qualquer pessoa que presenciar uma situação suspeita”, informou a PM.

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