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Ao buscar carga, motoristas de caminhão do RS são rendidos e roubados
09/01/2019 09:08 em Novidades

Pelo menos dois caminhoneiros, ambos moradores de Pelotas, na Região Sul, tiveram o veículo roubado em dezembro ao buscarem cargas que iriam transportar. No chamado golpe do frete, os motoristas são atraídos por meio de aplicativo. Por ali, empresas de todo o país disponibilizam ofertas de fretes. Algumas propostas partem de empreendimentos fantasmas, que oferecem valores elevados pelo serviço. 

 

Quando buscam a carga, vem a surpresa: os profissionais são rendidos e têm os caminhões levados pelos ladrões. Foi o que aconteceu com um gaúcho, de 44 anos, que não quis se identificar. No aplicativo, deparou-se com uma oportunidade lucrativa. Para levar uma carga de São Paulo até Curitiba, distância de cerca de 400 quilômetros, a empresa oferecia R$ 4 mil – o valor pago normalmente é de cerca de R$ 2,5 mil. No anúncio do frete, havia uma observação: a carga deveria ser buscada com urgência. 

 

— Deveria ter desconfiado — lamentou a vítima. 

 

O motorista chegou a Taboão da Serra, em São Paulo, para buscar o carregamento em 17 de dezembro. Conforme combinado com a suposta empresa, foi até um posto de combustíveis. No local, os criminosos anunciaram o assalto.

 

— Encostou um cara do lado com arma apontada para mim e disse "tranca o caminhão, gaúcho. Te atira no banco de trás, senão te mato". Vendaram meus olhos. Não dá tempo de nada, a gente não espera aquilo – relembra.

 

De lá, foi levado até um cativeiro, onde outros dois assaltantes o esperavam. Por cinco horas, permaneceu no local, sendo ameaçado. Só depois, foi liberado.

 

— O caminhão é o de menos, o que importa é a vida da gente. 

 

A vítima ainda ouviu os criminosos combinando de levar o caminhão até a Colômbia, onde seria vendido para desmanche. No dia seguinte ao ataque, o veículo foi rastreado e recuperado em Avaré, no interior de São Paulo. Segundo policiais, ele seguia no sentido de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, em direção à fronteira com o Paraguai.

 

— Minha ficha não caiu até agora — afirmou o motorista, que é casado e tem uma filha de 11 anos. 

 

Três dias antes, um caso semelhante aconteceu com o funcionário de uma empresa de Turuçu, a cerca de 50 quilômetros de Pelotas. Proprietário e caminhoneiro combinaram que o motorista trabalharia por 45 dias em Mato Grosso. Para encontrar oportunidades de frete, acessou o aplicativo, no qual aceitou fazer um transporte de Várzea Grande para Campo Grande — distância de 715 quilômetros. No local combinado, o motorista foi rendido.

 

— Deixaram ele por dias no mato, em Cuiabá, apenas com água. Ficou em condições desumanas  — contou o proprietário da empresa. 

 

Veículos trocados por drogas

De acordo com o delegado Marcelo Martins Torhacs, da Delegacia Especializada de Repressão a Roubos e Furtos de Veículos Automotores de Cuiabá, no Mato Grosso, a prática deste crime tem sido verificada com frequência no Estado da região Centro Oeste.

 

— Há mercado negro de troca de veículos por entorpecentes na fronteira com a Bolívia, descendo o Paraguai. Já pegamos algumas quadrilhas e percebemos que, em alguns casos, as ordens partem do presídio. Esse modo de agir tem crescido e é um desafio para a segurança pública — explicou.

 

Segundo Torhacs, o Mato Grosso sofre com tráfico de drogas internacional, favorecido por fronteiras descobertas.

 

— Dependendo da cidade de onde partirem, se dirigirem em uma velocidade razoável, em duas horas, os criminosos estão na Bolívia — ressalta Torhacs.

 

O delegado conta que o país vizinho não tem acordo de cooperação com o Brasil, o que dificulta a ação da polícia.

 

— Nós não podemos realizar diligências lá, eles não têm interesse nenhum nisso. Além disso, há facilidade em regularizar os veículos roubados no Brasil, o que dificulta a recuperação — afirmou.

 

Ainda que algumas das vítimas sejam do Rio Grande do Sul, não há ocorrência deste tipo de crime registrada no Estado, conta o delegado Joel Wagner, da Delegacia de Furto e Roubo de Veículos do RS.

 

— Como os casos aconteceram em outros Estados, foram registrados lá. Então, não temos conhecimento — disse Wagner.

 

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